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Goodbye is not farewell – o primeiro capítulo do primeiro texto de Si, Copimila

Para você que ainda não comprou porque está em dúvida: "Será que o texto fictício do Jorge Wakabara é bom, mesmo?". Ou para você que já comprou e ainda não recebeu: a ansiedade vai aumentar mais!


Aqui segue um capítulo de um dos cinco textos do nosso livro Si, Copimila, que continua em pré-venda até sexta-feira! O primeiro texto se chama Mas tudo o que ela quer é um grande elefante branco. E o título desse primeiro capítulo é Goodbye is not farewell.

Confira esse aperitivo...


   	Estava quente quando mamãe gritou: 
 	– Chegou! Vem ver, menino, seu passe chegou! Ai, graças a Deus! 
 	Faz muito tempo. Eram aqueles dias de ar parado, a suspensão das horas – são tantos os dias assim, mesmo aqui. O cabelo preso em coque, como sempre, e os seus olhos, dois céus abertos que lacrimejavam (sempre achei que os olhos de mamãe clareavam ainda mais quando ela chorava). 
 	Mamãe chorava muito, muito, o tempo todo. Pela situação geral, pelas situações particulares, ao ler o jornal, ao conversar com as amigas no telefone, logo após falar aos gritos com alguma prima do outro lado do muro. 
 	Já Odete não chorava. Só vi os olhos dela lacrimejarem uma vez. Grandes olhos gelatinosos, duas enormes janelas de topázio derretido, parecidos com os de mamãe no jeito mas com uma leve sombra, um cisco de dúvida. 
 	Quando cheguei aqui achei que essa diferença que eu notava, tênue mas presente, vinha da diferença de idade. Hoje sei que era mais do que o tempo. Mamãe e Odete se pareciam fisicamente, só que a vivência, a leitura do mundo... Diferia, sim. Não sei dizer se elas se gostavam de verdade ou se toleravam. Se a preocupação de mamãe por Odete era genuína ou mecânica. Já me peguei pensando: qual foi o verdadeiro motivo de mamãe ter feito o que fez? Por que ela tomou aquela decisão e eu vim sozinho? 
 	Na época, o raciocínio dela me pareceu lógico. Ainda era muito novo, então passei batido pelas lacunas – ou intuí que era melhor não cutucar algo que se revelaria uma ferida. Quando o trem começou a andar mamãe correu pela plataforma, o coque se desfazendo aos poucos, acenava “Adeus! Adeus!”; e aí que se acenderam os espaços vazios, a preencher. Postes de luz na beira dos trilhos com muriçocas dançando ao redor. 
 	As dúvidas acabaram por ficar sem resposta. Eu ficava constrangido em perguntar por carta, em questionar o amor dela de mãe, o sacrifício que ela fez, o amor que ela sentia pela mãe dela. 
 
 	Mas antes vou contar quando vi Odete lacrimejar. 


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